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O ano de 2020 ficará marcado na história como aquele em que tudo parou, mudou e teve de se adaptar a uma nova realidade. Mas será que realmente tudo mudou?

Algo que não parou e não mudou foi o tempo e a nossa relação com ele.

O tempo pode ser entendido como o nosso “tempo de vida”, ou seja, o intervalo entre o nosso nascimento e a inevitável morte, e para qual finalidade e como utilizamos este tempo. 

A vida de cada pessoa é o tempo que ela tem para viver. De maneira geral, isto significa algo em torno de 80 anos ou mais. Em que devemos utilizar este recurso e, porque não, tesouro tão valioso? Na realidade, mesmo talvez sem ter consciência, pouco a pouco “trocamos” ou “vendemos” frações do nosso tempo de vida por aquilo que desejamos e necessitamos para viver. Um exemplo fácil de compreender é o que fazemos ao trabalhar.

Mesmo com a nova conjuntura imposta pela pandemia o tempo não parou, pois continuamos e precisamos viver. Para isso, temos de trabalhar, seja de maneira remota, para quem pode, ou de outra forma diferente daquela que viemos fazendo até 2020, pois sem uma atividade remunerada, não conseguimos comer, morar e nos vestir. 

Se para nós o tempo não parou, mesmo o mundo tendo parado em muitos aspetos, o que também não mudou foi a realidade da inevitabilidade da morte. Independentemente de existir ou não o Covid, ao longo de toda a história da humanidade, em todas as épocas, o facto do ser humano estar sempre vulnerável à morte continua e continuará inalterado.

Quando tinha quase cinquenta anos, o escritor russo Liev Tolstói (1828-1910) chegou a essa constatação. Sabendo que a morte podia chegar em breve e a qualquer momento, escreveu: “Fiquei simplesmente atônito de não ter entendido isso até hoje. É uma realidade tão óbvia e do conhecimento de todos desde o começo dos tempos. Como pode uma pessoa continuar vivendo e não perceber isso? É tão perturbador! Só é possível continuar vivendo enquanto se está embriagado com a vida; depois de sóbrio é impossível não perceber que tudo não passa de um mero truque”.

Os avanços materiais da civilização moderna tornam a vida mais fácil e confortável, mas certamente não fornecem uma felicidade duradoura. Sem saber o propósito e como utilizar o nosso tempo de vida, nenhuma felicidade será permanente, nem oferecerá uma solução definitiva ao nosso sofrimento. O prazer de obter o que queremos dura apenas por um determinado tempo, é temporário e efémero.

Séneca, o filósofo romano que viveu no século I, manifestou-se da seguinte forma sobre a sua forma de utilizar e viver o tempo de vida: “Desperdicei meus dias. Persegui os objetivos errados. Talento, bens materiais e poder causam inveja nas pessoas, mas não trazem alegria nem satisfação. Por que em vez disso não procurei a felicidade que pudesse me satisfazer de verdade?”

Na vida, temos coisas importantes e urgentes, e outras importantes mas não tão urgentes. Por outro lado, podemos ter questões não muito importantes mas urgentes, e outras que não são tão importantes e nem tão urgentes. Aperfeiçoar o nosso senso de julgamento do que é realmente urgente e importante nesta vida, também faz parte do caminho para a melhor utilização do nosso tempo, recurso tão valioso e essencial para a felicidade.

“Para qual propósito e como utilizar o meu tempo de vida? Em que devo gastar o grande tesouro da minha vida? Afinal, qual é o propósito da vida?” 

Esta é a grande reflexão, aprendizagem e energia motivadora que 2020 nos presenteou, para que possamos iniciar 2021 com um objetivo claro para a nossa vida, pelo qual viveremos cada dia, cada hora, cada minuto, cada instante do nosso precioso tempo. 

Assim, poderemos viver com toda a determinação, garra e perseverança de quem sabe o quer e onde almeja chegar. Tudo isso para que no final, possamos sorrir e dizer do fundo do coração, sem nenhum arrependimento: valeu a pena ter nascido como ser humano!! Que imensa alegria estar vivo!!  

Poderá ler mais sobre essas importantes questões sobre a vida e o ser humano no livro Porque vivemos.

Kentetsu Takamori (autor principal) e Daiji Akehashi (coautor), que escreveram o livro Porque vivemos.

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Professor de filosofia budista, cultura japonesa e pensamento nipónico, autor, diretor de conteúdo e presidente da ITIMAN. Diretor internacional da Ichimannendo Publishing Co. Ltd. - Tóquio, Japão.

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