— Professor, preciso da sua ajuda. Estou com problemas em casa, o que devo fazer? — A queixa, acompanhada de lágrimas, viera de uma mulher que visitava Thomas Carlyle (1795–1881). Ela partira do princípio que o aclamado filósofo inglês teria um sábio conselho para oferecer.
Carlyle escutou as angústias em silêncio, balançando a cabeça em concordância. Quando a mulher terminou, instruiu-a.
— A chave para solucionar os seus problemas está na sua caixa de costura.
— Caixa de costura?! Mas qual a relação entre a caixa de costura e as minhas aflições?
— Se encontrar fios emaranhados, desembarace-os e torne a enrolá-los com cuidado. Quando terminar a organização da caixa, verifique o guarda-roupa. Se as roupas estiverem desarrumadas, coloque-as em ordem. É esse o meu conselho.
A mulher não conseguiu compreender as palavras. No entanto, por virem de Thomas Carlyle, deveriam conter um significado oculto e profundo. Pensando nelas, voltou para casa.
Uma semana se passou.
— Professor, agradeço de coração o conselho que me deu. A mulher, recuperada e alegre, voltou a visitar o filósofo. — Conforme me disse, havia uma confusão de linhas e agulhas na minha caixa de costura. No guarda-roupa, as roupas tampouco estavam dobradas com cuidado ou ordenadas por categoria. Comecei a arrumar e, quando dei por mim, estava a organizar a casa toda. Senti-me envergonhada e perguntei-me como é que eu podia ter descuidado de coisas tão básicas. A desordem na casa é um reflexo da desordem na mente e no espírito. Se a casa está desarrumada, não há nada na vida que funcione.
Satisfeito, Carlyle sorriu e concordou com a cabeça.
Esta história mostra que existe uma relação estreita entre a organização da casa e a solução de muitos problemas da vida quotidiana.
Organizar a casa produz efeito no lugar onde vivemos, mas além disso influencia de maneira positiva e decisiva a harmonia da nossa mente e do nosso coração.
Há um provérbio japonês que diz: «Ao ver apenas uma parte, podemos deduzir o todo.»
Isso significa que ao ver uma ação ou atitude, podemos inferir como é a postura e o caráter de uma pessoa. Ou ainda, que a nossa personalidade vai sendo constantemente construída a cada ação que praticamos, por menor que ela seja.
Organizar a nossa carteira, gavetas, malas, os nossos pertences materiais e limpar a casa é uma boa ação que praticamos com o corpo, mas que tem reflexos na mente e no espírito, proporcionando bem-estar e equilíbrio para uma vida feliz.
Não podemos menosprezar a força que cada ação praticada exerce sobre a nossa vida quotidiana, pois como até a Ciência já comprovou, para toda a ação sempre existirá uma consequência. Isso não se aplica apenas à Física, mas a todas as esferas da nossa vida, tanto no âmbito pessoal e familiar, como no profissional e social.
Precisamos de ter sabedoria e humildade para nos esforçarmos ao máximo para plantar boas sementes, pois só assim colheremos bons frutos. Mesmo que de início apliquemos este princípio apenas a questões físicas e visuais, como a organização e limpeza da casa, estaremos a dar o primeiro passo para uma mudança feliz que, com certeza, produzirá bons frutos na nossa mente e no nosso coração.
Basta praticar para comprovar.
Leia mais sobre este importante tema para a nossa vida quotidiana no livro Causa e Consequência – Filosofia budista para o dia a dia e nos artigos do site da ITIMAN.
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