Muitas vezes, sem perceber e sem uma ter intenção explícita, podemos machucar o coração das pessoas com as nossas palavras, mesmo daquelas que mais amamos. Uma história do Japão mostra o peso das nossas ações verbais e é um ponto de reflexão importante sobre o que falamos no cotidiano.
Uma senhora com mais de 120 anos recebeu um visitante, que fez o seguinte comentário: “A senhora deve ter tido muitas experiências interessantes na longa jornada de sua vida. Poderia revelar alguma lembrança marcante para mim?”.
“Claro que muita coisa aconteceu, mas minha memória não é mais a mesma. Acho que esqueci de tudo”, respondeu a velha senhora, sacudindo a cabeça.
Simpático, o visitante concordou que isso era natural para alguém com idade tão avançada, mas insistiu: “Não se lembra de nem uma coisa?”.
“Bem, já que insiste, vou contar. Tenho lembranças dolorosas de ter morrido vinte e quatro vezes.” A velha murmurou essas palavras misteriosas franzindo a testa enrugada.
Quando o visitante pediu uma explicação, ela começou a contar a história toda em tom triste e com muitas pausas.
“Durante a minha vida, vi o nascimento de muitos filhos, netos e bisnetos. Mas a morte faz parte da vida e pode levar qualquer um, a qualquer momento, seja jovem, seja velho … Então, já presenciei a morte de filhos, netos e bisnetos. No total, foram vinte e quatro funerais nesta casa. E em todas as vezes, os conhecidos vinham apresentar condolências e diziam: ‘A velha é quem devia ter morrido!’. Esses, ao menos, sussurravam em outra sala, por consideração a mim. Porém, meus netos e bisnetos, diziam isso de propósito na minha cara. Quantas vezes me mataram com suas palavras …”
De fato, a boca é o portal do infortúnio. Nunca saberemos quantas pessoas podemos ter ferido ou matado com nossas palavras. Por isso, nunca é demais ter cuidado e pensar bem antes de falar.
Outros contos baseados na filosofia budista podem ser lidos no livro “Um caminho de flores”, de Kentetsu Takamori.
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