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Se o nosso nascimento puder ser comparado a uma aeronave que descola de um porta-aviões, uma vida de lutas contra as dificuldades seria uma batalha desesperada travada contra os aviões inimigos, em meio à turbulência e à tempestade. Depois de um combate feroz, o piloto retorna e descobre que seu porta-aviões desapareceu sem deixar vestígio. Não encontra nada diante dos olhos, além do vasto oceano. Seu combustível chegou a zero. Ele pensa na dura e desesperada batalha que acabou de enfrentar, e pergunta a si próprio: “De que serviu tudo isso? Fui um tolo, um grande tolo…”. 

“Quando a vida está para terminar, remorso e medo ocorrem em turnos” − essas palavras do “Grande Sutra da Vida Infinita” retratam o estado de espírito do piloto quando seu avião está caindo no mar. Assim como para um avião não há destino pior do que a queda, também na vida não existe questão maior do que a morte. 

Por esta razão, o budismo explica sobre a “questão crucial do nascimento e morte” ou a “grande questão do pós-morte”

No Grande sutra da vida infinita podemos ler também: “As pessoas nesta vida são superficiais e todos lutam por coisas que não são urgentes”. Em outras palavras, isso significa que, completamente distraídas pelo que está diante dos olhos, elas concentram o foco e dão prioridade aos “meios de vida” (tudo que é importante para vivermos, como saúde, família, dinheiro, casa, amigos e reconhecimento, mas que proporciona felicidades temporárias) e deixam para depois, em segundo plano, a busca pelo “propósito da vida” (objetivo pelo qual nascemos como seres humanos e estamos a viver neste momento, que quando estiver totalmente claro, proporcionará a felicidade plena  e duradoura). Por viverem desta forma, não se dão conta da tarefa essencial da vida: eliminar a causa básica (fonte) do sofrimento humano e obter a verdadeira felicidade. 

Enquanto se tem saúde e acreditamos que a morte ainda é uma realidade muito distante de nós, é possível pensar que é uma grande asneira falar em propósito da vida, morte e pós-morte, ou dizer que não há um “objetivo de viver” e que o mais importante é viver cada momento, viver o “aqui e agora” em paz, de maneira pacífica e com harmonia.

Ter este tipo de pensamento e viver dessa maneira é exatamente o estilo de vida de alguém que se concentra somente nos “meios de vida” e, por consequência, nas felicidades momentâneas. Se vivermos uma vida inteira dessa forma, no final, sentiremos o mesmo arrependimento do piloto de avião que voou, lutou, venceu batalhas durante todo o voo, mas que quando o combustível já está quase no fim, não consegue encontrar um local seguro para a aterragem. 

Será esta a vida que realmente queremos? 

Exatamente para evitar este futuro trágico é necessário coragem e sabedoria para olhar com sinceridade e sem distorções para a realidade da nossa vida, e o quanto antes tomar consciência da questão crucial do nascimento e morte, para então, buscar a sua solução. Este é o caminho para a felicidade plena e duradoura, possível nesta vida, indicado pela filosofia budista.

Neste mundo em que tudo é efémero e temporário, a felicidade que não perece é o desejo comum de todos os seres humanos, sendo por isso, o propósito de nossas vidas.

Leia, também, o artigo A diferença entre o propósito da vida e os meios de vida.

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Professor de filosofia budista, cultura japonesa e pensamento nipónico, autor, diretor de conteúdo e presidente da ITIMAN. Diretor internacional da Ichimannendo Publishing Co. Ltd. - Tóquio, Japão.

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