Para viver, buscamos felicidades que se apoiam no dinheiro, nos bens materiais necessários para a sobrevivência como comida, casa e roupas, na família, na saúde e nos amigos, entre outras coisas. Embora possam durar por algum tempo, essas felicidades não permanecem para sempre, pois dependem de algo para existirem, ou seja, as pessoas sentem-se felizes enquanto suas necessidades e seus desejos são satisfeitos.
Mas quando algum desses desejos não é saciado, esta felicidade se desfaz. Por isso, este tipo de felicidade não continua para sempre, pois depende de coisas inconstantes e efémeras. Assim, ao mesmo tempo em que proporcionam um sentimento de bem-estar temporário, essas felicidades estão continuamente causando sofrimento ao ser humano devido a dois motivos:
Fazendo uma analogia, “viver” pode ser comparado a “voar de avião”. A descolagem de um aeroporto significa o nosso nascimento em algum lugar (no caso, nossa terra natal). Enquanto estamos vivendo, estamos “voando”. Dentro do avião podemos viajar na classe econômica ou executiva, optar entre vários tipos de comida, dormir, ler um livro, conversar, ouvir música, assistir um filme, etc. Estas opções variam de pessoa para pessoa, ou seja, dos desejos de cada um. E assim, podemos viajar tranquilamente e desfrutar da viagem.
Essas escolhas correspondem ao “modo de viver” das pessoas, isto é, aos “meios, motivações e metas de vida”, que proporcionam felicidades temporárias, conforto e bem-estar. Apesar de serem importantes, os “meios de vida” não são suficientes para nos conduzir a uma felicidade duradoura e plena, pois mesmo tendo uma vida digna e alegre, possuindo dinheiro, reconhecimento, saúde, casa, amigos e família, todas as pessoas terão que se defrontar com a morte algum dia. Isso significa que tudo o que a pessoa adquiriu ao longo da sua vida e que sustenta suas felicidades atuais irá desmoronar algum dia, com certeza.
Todos nós desejamos e acreditamos que a felicidade atual permanecerá para sempre. Pensando no exemplo do avião, esta situação é análoga ao comportamento de um passageiro que mesmo não sabendo do destino do avião para um pouso tranquilo e seguro, continua a se divertir e desfrutar da viagem. Ao permanecer assim, fatalmente o combustível do avião irá se esgotar e então, só restará a queda.
Da mesma forma, as pessoas que vivem somente o ciclo vicioso da vida cotidiana, isto é, voltados e preocupados apenas aos meios de vida, vivem sem saber o propósito de viver e a cada dia aproximam-se da morte, sem nenhuma ou mínima consciência deste futuro que com certeza virá para todos.
Por isso, é necessário obter, nesta vida, uma felicidade que proporcione satisfação e tranquilidade plenas, ao mesmo tempo em que nos dedicamos os meios de vida, que também são importantes, uma vez que sem eles não conseguimos viver.
Há mais 2600 anos, Shakyamuni, o buda, descobriu o caminho para a felicidade plena e duradoura, e explicou sobre isso ao longo de toda a sua vida, dando origem ao que hoje chamamos de Budismo. A nossa caminhada até a felicidade plena passa pela descoberta do verdadeiro eu, ou seja, da natureza do ser humano.
Leia mais sobre quem somos e como a filosofia budista explica o ser humano, no artigo: “Somos todos viajantes”.
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