A maioria das pessoas se surpreende ao saber que a vida tem um propósito e que este objetivo pode ser alcançado ainda em vida. Essa surpresa é natural porque o senso comum nos diz exatamente o contrário.
De facto, qualquer busca, atividade ou caminho ao qual nos dedicamos – seja por aprendizado, seja na arte, na ciência, na medicina, nos desportos, na gastronomia, entre outras áreas – segue um caminho sem fim, sem possibilidade de conclusão definitiva ou completude total, uma vez que sempre teremos algo a mais para aprender. Todas as nossas “buscas” continuam a vida inteira, incessantemente.
Muitas pessoas se contentam com uma vida assim e argumentam: “Pensar que se chegou à conclusão pode ser danoso porque marcaria um fim para o progresso. O facto do caminho não ter fim é o que nos faz melhorar, nos tornar melhores do que somos hoje”.
Mas vamos examinar melhor esta proposição. Dizer que “o caminho sem fim é o melhor a se tomar” é enaltecer a busca de uma vida inteira por algo que não é realizável.
A ideia é totalmente absurda, pois cada busca é empreendida com o pressuposto de que seu objeto pode ser encontrado. Uma pessoa que dedica toda a sua vida à procura de algo que sabe ser inatingível é como alguém que compra bilhetes de loteria sabendo que são do ano anterior. Quem seria capaz de comprar, em sã consciência, tais bilhetes?
Alguns insistirão que a “busca sem fim” lhes convém porque o processo de poder se esforçar e melhorar durante a vida inteira, como se tudo fosse um treino, é maravilhoso, admirável e traz uma satisfação pessoal. Entretanto, esta satisfação é temporária e efémera. É diferente, em sua natureza, da alegria plena da vida que proporciona a mais sincera e autêntica felicidade duradoura e a profunda gratidão por ter nascido e estar vivo como ser humano.
Por não conhecerem a felicidade plena de realizar o verdadeiro propósito da vida, as pessoas se contentam com o sentimento momentâneo de bem-estar e alegria proporcionadas pela satisfação pontual do processo de busca incessante das várias áreas do conhecimento humano, terapias e filosofias de vida, muito úteis para o bem-estar cotidiano, mas insuficientes para uma vida plena de felicidade duradoura, desejo final de qualquer ser humano.
Afinal, existe ou não um propósito na vida?
Esta foi a mensagem essencial transmitida pelo Buda Shakyamuni, há mais de 2600 anos na Índia, e reproduzida pelos grandes mestres budistas como Shan Tao (613-681, China), Shinran (1173-1263, Japão) e Rennyo (1415-1499, Japão). Esta é a essência do ensinamento que atualmente conhecemos como budismo.
Partilhamos o artigo “Objetivo da vida e meios de vida”, que explica mais sobre esta questão fulcral da vida e do ser humano, segundo a filosofia budista.
- E-mail: mauro.nakamura@itiman.eu
- Facebook: Mauro Nakamura
- Instagram: Mauro Nakamura