Certa ocasião, um casal entrou num dos restaurantes e pediram um prato do menu infantil. O rapaz que os atendia ficou confuso: onde estava a criança, afinal?
As normas do restaurante eram claras e conhecidas do grande público, quanto à proibição da venda do menu infantil a adultos.
— Senhores, peço desculpas, mas… — disse o rapaz sob o olhar atento ao casal.
Neste instante, reconsiderou: «Mas, para quem será o menu infantil?»
Cabisbaixa, a esposa respondeu:
— Para a nossa filha morta. Durante muitos anos, não conseguimos conceber uma criança. Continuámos a tentar e tivemos uma menina linda, mas muito frágil. Pouco tempo depois, ela morreu. Nem tivemos tempo de comemorar o seu primeiro aniversário. Hoje faz um ano que ela nos deixou …
— Sinto muito…
— Sonhávamos com o dia em que ela conheceria a Disneylândia, mas infelizmente, não foi possível… Por isso, hoje viemos aqui com o sentimento de, ao menos, «trazer» a nossa filha, que agora vive dentro dos nossos corações. Por alguns momentos, sentimos que ela estava realmente connosco e pedimos o menu infantil por impulso. Pedimos desculpas.
O sorriso voltou ao rosto do rapaz.
— Certo. Pedido anotado: um menu infantil! Por favor, venham comigo — disse, e transferiu o casal para uma mesa de quatro lugares. Em seguida, trouxe uma cadeira infantil. — Tu sentas-te aqui — indicou à suposta criança. — Fiquem à vontade e divirtam-se! — disse e retirou-se, alegre.
Depois de regressarem a casa, o jovem casal escreveu ao restaurante. «Almoçamos entre lágrimas, em uma verdadeira reunião de família, como se a nossa menina estivesse viva. Muito obrigado.»
Na sensibilidade humana, postura e gesto simples do rapaz, encontramos a síntese da consideração ao próximo. Colocar-se na posição da outra pessoa, pensar e agir considerando o sentimento alheio é a base da educação, da ética, do bom relacionamento interpessoal e social em qualquer país, e assim continuará a ser enquanto o ser humano viver, seja qual for a época. Por ser um conceito universal, também é a base do pensamento budista.
Saber e ter consciência é importante, mas é necessário dar um passo a mais: agir. É preciso praticar todos os dias, no nosso dia a dia. A autêntica prática está em cada ação que praticamos com o corpo, com a boca e, principalmente, com a mente, no nosso quotidiano.
Isso não significa sacrificar-se em prol dos outros a ponto de até se prejudicar, mas preocupar-se, desejar de coração, com sinceridade, o melhor para as pessoas e esforçar-se ao máximo para agir desta maneira.
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