Um episódio recente protagonizado pelo autor da frase deste post (“Pode chupar a minha língua”), que foi noticiado mundialmente, fez com que algumas pessoas me enviassem perguntas e, até, mensagens mal-educadas e ignorantes sobre o caso. Por esta razão, esta é uma ótima oportunidade para explicar e esclarecer o que é, e o que não é Budismo.
Em primeiro lugar, repudio veementemente a atitude de uma pessoa que diz a uma criança “Pode chupar a minha língua” e que, efetivamente, toma esta ação. E, com certeza absoluta, não há dentro do Budismo qualquer conteúdo ou orientação deste tipo.
Mesmo que mostrar a própria língua às outras pessoas ou chupar a língua alheia possa ser uma forma de cumprimento local, isso tem a ver com os costumes e a cultura de um determinado país, e não com a filosofia budista, transmitida pelo Buda Shakyamuni, há mais de 2600 anos.
O que aconteceu nesta estranha e, na minha visão particular, extremamente lamentável cena, foi a ação de um indivíduo, motivado por razões individuais da sua própria mente, natureza e essência. Sobre essas “razões”, eu e todas as demais pessoas do mundo inteiro jamais poderemos saber, a não ser que o próprio protagonista explique com sinceridade e honestidade.
O que pretendo nesta nota de repúdio e esclarecimento não é julgar o autor desta frase, mas apenas esclarecer que aquilo que circulou pela internet, na televisão e jornais não é Budismo. Portanto, a atitude tomada por este cidadão que se apresenta como um monge budista e líder espiritual do Tibete não foi nada digno e muito menos condizente com aquilo que a filosofia budista ensina. Por isso, é preciso separar claramente aquilo que é o pensamento, a postura e a ação de um ser humano (indivíduo) e aquilo que é o conteúdo da filosofia budista.
Mas, afinal, o que ensina o Budismo? Ou, melhor, o que ensina um verdadeiro mestre de Budismo?
Todos os ensinamentos de Buda foram compilados e encontram-se registrados em mais de sete mil sutras (livros). Ao longo da milenar história budista, surgiram mestres, pessoas que transmitiram os ensinamentos de Buda.
Dentro do livro “Koso Wasan” (Hinos sobre os mestres), constam as seguintes palavras de Shinran (1173-1263), respeitado mestre budista do Japão.
“Encontrar um verdadeiro mestre de Budismo é a maior de todas as dificuldades; o ciclo sem fim do sofrimento surge apenas da mente que duvida”.
O significado do texto acima é: “Ah… como é difícil encontrar alguém que possa ensinar a verdadeira mensagem e a essência do Budismo – de que a fonte do sofrimento humano é a mente escura.”
O que as pessoas pensam quando ouvem a palavra “Budismo”?
Há monges, praticantes, terapeutas e estudiosos que falam do Budismo, mas ensinam erroneamente que as paixões mundanas como desejo, raiva e inveja são a causa do sofrimento e dão diretrizes de como lidar com elas. Encontrar um mestre verdadeiro, que ensine que a raiz fundamental do sofrimento humano é a mente escura, é de facto tão difícil quanto encontrar estrelas numa noite chuvosa.
A filosofia budista indica e explica a existência de uma felicidade que pode ser experimentada por qualquer pessoa, sem a necessidade de reduzir ou eliminar as nossas insistentes paixões mundanas como o desejo, a ira e a inveja, pois a genuína felicidade plena que buscamos nesta vida independe dessas paixões e sentimentos, que não deixarão de existir até a morte.
A felicidade genuína que buscamos não depende de «ser ou não ser», «ter ou não ter». Pois mesmo «quem é» ou «quem tem», possui sofrimentos. No entanto, de forma alguma nascemos e estamos vivos para sofrermos. O maior desejo e propósito final de todos os seres humanos é identificar corretamente a causa do sofrimento e solucioná-la definitivamente, ainda nesta vida.
A filosofia budista mostra um caminho em que, mesmo que nem todos os nossos desejos não sejam satisfeitos, mesmo que a ira persista, mesmo que sentimentos detestáveis como a inveja e o ciúme venham à tona, é possível obter e sentir uma felicidade verdadeira e inabalável, que não depende de fé ou crença religiosa para existir e perdurar.
A explicação mais profunda sobre este assunto pode ser lido nos livros “Porque Vivemos”, de Kentetsu Takamori, “Causa e Consequência” e “A História de Buda”, e é também um dos conteúdos dos cursos online e presenciais da ITIMAN. Abaixo, poderá ler as páginas iniciais desses três livros.