Era uma vez uma cegonha com fome. A trapaceira raposa se aproximou dela.
— Cegonha, parece faminta. Por que não vem jantar comigo?
— É muita gentileza. Aceitarei seu convite.
Feliz, a cegonha acompanhou a raposa. Na casa da anfitriã, a comida consistia de uma sopa num prato raso.
— Você não consegue comer alimentos muito duros, não é? Assim, fiz esta sopa especialmente para você. Por favor, sirva-se.
Porém, o bico comprido impossibilitava a cegonha. Fingindo profundo pesar, a raposa disse:
— Está sem apetite? Que pena. Bem, então vou servir-me em seu lugar — e comeu a parte da cegonha.
Vendo o rosto risonho da raposa, a cegonha logo percebeu que fora motivo de ridículo. Sentiu-se extremamente humilhada.
“Hei de me vingar”, decidiu.
Dias depois, a cegonha encontrou a raposa.
— Raposa, preparei um jantar maravilhoso. Não gostaria de se juntar a mim?
Então, serviu a comida dentro de um pote longo e estreito. O cheiro era delicioso. Porém, a raposa não conseguia alcançar a refeição. Ficou circulando em torno do pote.
— O que está fazendo, dançando? Não acha melhor comer primeiro? — caçoou a cegonha.
Dessa vez, foi a raposa que voltou para casa frustrada.
Esta é apenas uma fábula infantil, mas que tem muito a ensinar aos adultos. Diz o ditado: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Mas, no caso da fábula, foi apenas a raposa que sofreu as consequências dos seus atos?
A cegonha foi a primeira vítima — porém, no momento em que decidiu se vingar, cometeu o mesmo erro da raposa. Caso a história continuasse, a raposa não retaliaria? Não é difícil imaginar que essa rusga poderia evoluir para uma briga séria.
É possível ver nesta fábula o padrão das disputas entre os seres humanos.
(Conto de Yutaka Yamazaki, autor, editor-chefe, presidente da Ichimannendo Publishing – Tokyo, Japan e vice-presidente da ITIMAN. No Japão, Yutaka Yamazaki assina seus livros como Koichi Kimura, seu nome artístico.)
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