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“Noites com sol” é o título de uma linda música de Flávio Venturini e um cenário, no mínimo, inusitado e incomum. É, também, uma situação semelhante à descrita na explicação budista para a natureza da felicidade plena e duradoura, objetivo final da existência humana.

A vida tem um propósito claro: ter a escuridão da mente (raiz do sofrimento humano) eliminada e a felicidade sem fim conquistada. Quando a escuridão da mente é dissipada, o que exatamente muda, e como?

Embora a escuridão da mente já esteja dissipada, as nuvens e a névoa do desejo, da raiva, do ódio, encobrem continuamente o céu da verdadeira felicidade. Mesmo que as nuvens e a névoa envolvam o céu ensolarado, debaixo das nuvens e da névoa, tudo é claro e a escuridão inexiste.

Livro “Porque vivemos”, de Kentetsu Takamori

A partir desta analogia criada pelo Mestre Shinran (1173 – 1262, Japão), o budismo ensina que “quando a escuridão da mente se dissipa, a imagem nua do “eu” é revelada, feita de sentimentos como ciúme e inveja. Porém, por mais densa que seja a camada de nuvens e névoa a cobrir o céu, o brilho do sol deixae tudo claro debaixo das nuvens e da névoa; da mesma forma, embora continuemos cheios de desejo, raiva, inveja e outras paixões mundanas, uma vez dissipada a escuridão, a mente é livre e feliz.”

Na filosofia budista, desejo, raiva, ciúme, inveja e sentimentos semelhantes são conhecidos como “paixões mundanas”. Há mais de 2600 anos, Buda Shakyamuni constatou e ensinou que o ser humano é um aglomerado de 108 paixões mundanas; nós, humanos, somos feitos dessas paixões.

Na analogia mencionada, todas as paixões mundanas que nos constituem são comparadas a nuvens e névoa, e o mundo da felicidade absoluta, a um céu ensolarado. Quando a escuridão da mente (causa básica do sofrimento humano) é dissipada pelo sol da sabedoria, vê-se claramente que a natureza do “eu” é composta de nada mais que paixões mundanas.

Mesmo que o céu esteja envolto em nuvens e névoa, abaixo delas tudo é claro, não há escuridão por causa da luz do sol. Da mesma forma, com o sol da sabedoria, a mente é repleta de luz, muito embora permaneça envolta em paixões mundanas.

Sem a presença do sol, não haveria como saber das nuvens e da névoa que cobrem o céu, nem a escuridão seria percebida como tal. Também não seria possível conhecer o mundo no qual debaixo das nuvens e da névoa tudo é claro e a escuridão inexiste.

Assim, até o sol da sabedoria dissipar nossa mente escura, nunca poderemos conhecer o “eu” verdadeiro feito de paixões cegas, nem perceber a escuridão da nossa mente. Tampouco, podemos entender que a mente cheia de dor e sofrimento (paixões mundanas) é, ao mesmo tempo, a mente repleta de alegria.

A analogia de Shinran aponta habilmente que o cumprimento de nosso propósito na vida e a consequente conquista da felicidade plena e duradoura nesta vida está relacionada, não às paixões mundanas, mas sim à solução de nossa “mente escura”.

A explicação completa sobre a “mente escura” (causa básica do sofrimento humano) e como eliminá-la pode ser lida na parte 2 do livro “Porque vivemos” (edição brasileira), de Kentetsu Takamori.

LIVRO PORQUE VIVEMOS (EDIÇÃO PORTUGUESA)

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Professor de filosofia budista, autor, diretor de conteúdo e presidente da ITIMAN. Diretor internacional da Ichimannendo Publishing Co. Ltd. - Tóquio, Japão.

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