Um ladrão que foi preso, algemado e sente ódio das algemas que impedem a sua liberdade e causam sofrimento, pode ser considerado inteligente?
Obviamente que não. Mas onde está o grande equívoco e incoerência deste ladrão?
O ato de roubar foi a má ação que gerou o resultado de estar preso, isto é, o sofrimento de perder a liberdade é uma consequência da ação que ele mesmo praticou.
As algemas não são a “causa” do seu sofrimento e sim, a “condição”.
A filosofia budista ensina, a partir do Princípio da Causalidade, que as consequências surgem na nossa vida de acordo com as ações que praticamos: “Boas ações resultam em boas consequências. Más ações geram más consequências. Minhas ações produzem as consequências na minha vida”.
Todas as consequências dependem de condições propícias para surgirem. Por exemplo, para colhermos trigo precisamos de ter não apenas a semente, mas também as condições propícias para que ela germine e se desenvolva até produzir o fruto desejado. Essas condições são recursos como temperatura ambiente, solo, luz solar e água, sem os quais não seria possível obter a consequência.
Nas adversidades, é muito mais fácil responsabilizar as outras pessoas, a sociedade, a situação do mundo e tudo que está em nossa volta, do que olhar para dentro de nós e refletir sobre as nossas ações que podem ter gerado o sofrimento atual. Em outras palavras, nos momentos desfavoráveis é mais cómodo olhar para a “condição” do que para a “causa”, que na realidade está em nós mesmos, nas ações mentais, orais e físicas que praticamos no dia a dia.
Ao culpar as condições pelo que acontece em nossas vidas, temos o mesmo comportamento do ladrão tolo, que confunde a causa com a condição.
Obviamente que as condições contribuem para que a consequência apareça e, por isso, precisa também ser trabalhada e melhorada. Mas o principal foco do nosso esforço para aprimorar a vida e caminhar em direção à felicidade deve ser as nossas ações, a causa principal de tudo que acontece em nossas vidas.
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