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A “compaixão” é um dos temas centrais da filosofia budista, que representa um sentimento muito importante para o bem-estar e felicidade de qualquer pessoa e de toda a sociedade.

Shinran (1173-1263), um grande mestre budista do Japão, explicou que o Budismo é o “navio da grande compaixão” que nos faz navegar pelo oceano de sofrimentos da vida, com mente e coração radiantes, repletos de felicidade.

A compaixão é explicada pelo conceito budista BAKKU YORAKU (抜苦与楽), que significa “eliminar o sofrimento e proporcionar a felicidade”.

Ao longo da vida, todos nós temos vários tipos de sofrimentos, assim como numa árvore, surgem continuamente incontáveis folhas e ramos. Ao vermos essas “folhas e ramos de sofrimento”, natural- mente surgirá o sentimento de querer “eliminar o sofrimento e pro- porcionar a felicidade”, ou seja, a compaixão.

Diante desta realidade, a filosofia budista explica que há dois tipos de compaixão: a “pequena compaixão” e a “grande compaixão”. A “pequena compaixão” é própria do ser humano e está presente em todas as relações interpessoais, familiares e sociais.

Um bom exemplo é a compaixão dos pais para com os filhos. Quando o filho fica com dor de barriga a meio da noite, mesmo que estejam cansados e com muito sono, os pais levam o filho imediatamente ao hospital. Esta atitude é resultado do sentimento de querer “eliminar o sofrimento” do filho.

Mas a compaixão dos pais não se limita a isso. Depois de a dor ser curada e eliminada, os pais preocupam-se em confortar o filho para que ele possa dormir com tranquilidade e segurança. Ou seja, querem “proporcionar a felicidade (bem-estar)” ao filho.

Da mesma forma, quando vemos uma pessoa carente, em sofrimento, que passa por dificuldades financeiras e tem fome, imediatamente sentimos compaixão e queremos ajudar com a doação de alimentos, bens materiais e dinheiro.

Tudo isso é compaixão. No entanto, por mais que os pais solucionem a dor de barriga do filho, que ajudemos os mais necessitados com alimentos e bens materiais, a solução do sofrimento será sempre momentânea e temporária. É como podar as folhas e ramos que florescem na “árvore do sofrimento”. Certamente, surgirão novas folhas e ramos.

Obviamente, este facto não tira o mérito e a legitimidade da compaixão das pessoas, que efetivamente alivia o sofrimento daqueles que mais sofrem, no presente momento. Por outras palavras, isso significa que a felicidade proporcionada pela compaixão humana é, e sempre será, temporária.

Para cada tipo de sofrimento necessitamos de um caminho adequado para a solução. Da mesma forma que, para cada doença, é necessário adotar um remédio e um tratamento específico para chegarmos à cura. Por esta razão, são vários os caminhos e soluções apresentados pelo Buda Shakyamuni, como as mais conhecidas práticas e meditações, entre outras. Mas não são as únicas, e nem representam a essência do Budismo.

No processo de busca pela felicidade que iniciamos desde o momento em que tomamos consciência da vida, a coisa mais importante é saber corretamente a causa básica ou a fonte do sofrimento humano (doença) e qual o caminho a trilhar (remédio) para a eliminar e solucionar definitivamente, e não apenas temporariamente.

Embora seja necessário e relevante, não basta apenas podar as folhas e ramos da árvore. Além disso, é essencial, arrancar a raiz da árvore do sofrimento humano. Isso significa que, ao mesmo tempo que precisamos de viver com todas as forças o nosso dia a dia e gerir os vários sofrimentos quotidianos (folhas e ramos da árvore) — como as questões relacio- nadas à saúde física, mental e emocional, meios de subsistência, família, trabalho e relacionamentos pessoais — precisamos de saber claramente a raiz (causa básica) do sofrimento humano.

Avançar pelo caminho que nos levará até a solução definitiva do sofrimento nesta vida (arrancar e eliminar a raiz da árvore), e não apenas obter alívios temporários do sofrimento (podar as folhas da árvore), é o propósito e a verdadeira felicidade propiciada pela “grande compaixão”, explicada de forma profunda pelo Buda Shakyamuni há mais de 2600 anos.

Saiba mais no livro A HISTÓRIA DE BUDA, de Hisashi Ohta & Mauro M. Nakamura (publicado em Portugal pela Editora Self).

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Professor de filosofia budista, cultura japonesa e pensamento nipónico, autor, diretor de conteúdo e presidente da ITIMAN. Diretor internacional da Ichimannendo Publishing Co. Ltd. - Tóquio, Japão.

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