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A atual situação terrível, triste e extremamente lamentável da Ucrânia e a recente (mas não menos atual) pandemia que ainda não terminou por completo, pelo menos para os países mais pobres do planeta, nos traz indignação, reflexões e um enorme aprendizado para a nossa vida, que precisa seguir em frente.

Por que a humanidade condena veementemente a guerra e teme tanto a pandemia? O que realmente nos causa medo só de imaginar, ou infelizmente, ver nos noticiários um cenário de guerra? O que faz com que cuidemos da nossa saúde, sem negligenciar práticas quotidianas como lavar ou higienizar as mãos frequentemente e, até, usar máscaras? (O que é perfeitamente legítimo num caso de pandemia).

Tudo isso tem como único propósito “fugir da morte”, postergar o máximo possível uma realidade que, com certeza, virá para todos nós, que hoje estamos vivos, queremos continuar a viver e, por isso, não queremos guerras ou pandemias.

A morte é o futuro inevitável de todos. No entanto, são poucas as pessoas que pensam nela com seriedade. Preferimos simplesmente não nos deter neste assunto. O falecimento súbito de um conhecido, de um amigo, ou de alguém da família força-nos a encarar a desagradável realidade da morte e causa-nos tremores de medo e ansiedade; mas trata-se apenas de um estado temporário. 

Depressa esquecemos e preenchemos o vazio com questões sobre como viver melhor. Mesmo aceitando a inevitabilidade da morte, continuamos a empurrá-la para um futuro distante de nós. 

Um famoso médico japonês escreveu o seguinte texto quando estava perto do final da sua vida: «Durante toda a minha vida, apenas os outros é que morriam… Era o que eu pensava… Agora, a ideia de que chegou a hora da minha morte é absurdamente insuportável.» 

A diferença entre cuidar da vida e da morte de outras pessoas e contemplar o próprio fim iminente é comparável à diferença entre ver um tigre no zoológico e ver-se subi- tamente diante de um tigre nas montanhas. Embora tremendo de ansiedade e medo, enquanto estamos saudáveis encaramos a morte com o mesmo espírito de quem observa um tigre na jaula, perigoso e aterrador, mas que não atacará, pelo menos naquele momento. 

O que aconteceria, entretanto, se o país em reside for, neste momento, invadido à força pelas tropas militares do país vizinho ou se lhe dissessem que tem Covid-19, e lhe dessem apenas uma semana de vida? 

Nos dias em que se está bem de saúde, temos a sensação de poder viver para sempre, sem qualquer problema. E com esta “convicção”, adiamos a reflexão e a procura acerca do propósito da vida para depois, com mais calma, quando tivermos tempo. 

No Grande Sutra da Vida Infinita também podemos ler um alerta do Buda Shakyamuni: 

“As pessoas nesta vida são superficiais e todas lutam por coisas que não são urgentes”. 

Por outras palavras, isto significa que o ser humano vive completamente distraído pelo que está diante dos olhos, apenas com o desejo ardente de viver e aproveitar ao máximo o momento presente, e não se dá conta do propósito essencial da vida: solucionar a verdadeira causa do sofrimento humano e conquistar em vida a felicidade plena e suprema. 

A filosofia budista ensina que, antes de tudo, precisamos tomar consciência desta dura, mas inegável realidade para qualquer ser humano. Se adiarmos a busca, a procura do conhecimento do objetivo da vida até termos realizado tudo o que desejamos, decerto chegaremos ao momento derradeiro com o maior arrependimento da vida: termos feito tudo, mas sentirmos um grande vazio, como se não tivéssemos feito nada. 

Por isso, enquanto temos saúde e vitalidade, precisamos de encarar a questão da morte de frente e buscar a solução. Porque ela é possível nesta vida. É exatamente esta resposta definitiva ao sofrimento humano que Buda Sakyamuni esclareceu há mais de 2600 anos. 

Leia mais sobre este tema no livro Porque vivemos.

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Professor de filosofia budista, cultura japonesa e pensamento nipónico, autor, diretor de conteúdo e presidente da ITIMAN. Diretor internacional da Ichimannendo Publishing Co. Ltd. - Tóquio, Japão.

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