Compaixão é uma palavra muito utilizada nos dias atuais, que representa um sentimento muito importante para o bem-estar e felicidade de qualquer pessoa e da sociedade.
Por ser assim, torna-se relevante compreender o seu sentido, no seu significado mais profundo. A compaixão é um valor humano ensinado pela filosofia budista há mais de 2600 anos, mas que é, e sempre será atual, enquanto a história da humanidade tiver continuidade.
A compaixão, que em japonês escreve-se 慈悲 e lemos como JIHI, é explicada pelo conceito budista BAKKU YORAKU, que significa “eliminar o sofrimento e proporcionar a felicidade”. A explicação, a partir dos ideogramas japoneses, pode ser expressa da seguinte maneira:
Ao longo da vida, todos nós temos vários tipos de sofrimentos, assim como numa árvore, surgem continuamente incontáveis folhas e ramos. Por isso, a filosofia budista explica que há dois tipos de compaixão: a pequena compaixão e a grande compaixão.
A pequena compaixão é própria do ser humano e está presente em todas as relações interpessoais, familiares e sociais. Um exemplo é a compaixão dos pais para com o filho. Quando o seu filho fica com dor de barriga no meio da noite, mesmo que estejam cansados e com sono, por mais que esteja muito frio, os pais levam o filho imediatamente ao hospital. Esta atitude é produto do sentimento de querer “eliminar o sofrimento” do filho.
Mas a compaixão dos pais não se limita a isso. Depois que a dor é eliminada e curada, os pais preocupam-se em confortar e aquecer o filho para que ele possa dormir com tranquilidade e segurança. Ou seja, querem “proporcionar a felicidade”.
Da mesma forma, quando vemos uma pessoa carenciada, que passa por dificuldades financeiras e até fome, imediatamente sentimos compaixão e queremos ajudar com a doação de alimentos, bens materiais e dinheiro.
Tudo isso é compaixão. No entanto, por mais que os pais solucionem a dor de barriga do filho, que ajudemos os mais necessitados com alimentos e bens materiais, a solução do sofrimento será sempre momentânea e temporária. É como podar as folhas e ramos que florescem na árvore do sofrimento. Certamente, surgirão novas folhas e ramos.
Obviamente, este facto não tira o mérito e a legitimidade da compaixão das pessoas, que efetivamente alivia o sofrimento daqueles que mais sofrem, neste momento. Em outras palavras, isso significa que a felicidade proporcionada pela compaixão humana sempre é e será, também, temporária.
Para cada tipo de sofrimento, necessitamos de um caminho adequado para a solução. Da mesma forma que para cada doença, é necessário adotar um remédio e um tratamento específico para chegarmos à cura. Por esta razão, são vários os caminhos e soluções apresentadas no budismo, como as mais conhecidas práticas e meditações, entre outras. Mas não são as únicas.
No processo de busca pela felicidade, que iniciamos desde o momento em que tomamos a consciência da vida, a coisa mais importante é saber corretamente da causa básica ou fonte do sofrimento humano (doença) e qual caminho trilhar (remédio) para eliminá-lo e solucioná-lo definitivamente.
Embora seja necessário e relevante, não basta apenas podar as folhas e ramos da árvore. Para além disso, é essencial, também, arrancar a raiz da árvore do sofrimento humano.
Para isso, primeiro, temos de saber corretamente e claramente sobre a raiz (causa básica) do sofrimento humano. Ao mesmo tempo que precisamos viver com todas as forças o nosso dia a dia e gerir os vários sofrimentos cotidianos (folhas e ramos da árvore), como as questões relacionadas à saúde física, mental e emocional, meios de subsistência, família, trabalho e relacionamentos pessoais, necessitamos prioritariamente avançar pelo caminho que nos levará até a solução definitiva do sofrimento (arrancar e eliminar a raiz da árvore), para então, obtermos não apenas felicidades temporárias, mas sim, a tão desejada felicidade plena e duradoura nesta vida.
Este é o outro tipo de compaixão, a “grande compaixão”, explicada de forma profunda pela filosofia budista. Ao ouvirmos os ensinamentos de Buda Shakyamuni e compreendermos o que é a “grande compaixão”, poderemos obter a genuína felicidade e, ao mesmo tempo, partilhar e proporcionar a mesma felicidade às pessoas.
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