Há cerca de mil anos, um monge budista chamado Shozan habitava o monte Hiei e, sozinho, dedicava-se às práticas. Um dia, percebeu estar praticamente sem comida. Do lado de fora, a neve se acumulava.
— Não revelarei minha situação à mãe. Isso somente a deixaria aflita — decidiu.
Dias depois, uma pessoa apareceu.
— Senhor Shozan? Venho da parte da senhora sua mãe — disse o homem, e entrou. Trazia consigo arroz e uma carta: “Não recebo mais notícias tuas. Por que? Estou preocupada, estás doente? Está muito frio. Cuide-se”.
As palavras transbordavam o amor da mãe, num zelo ainda maior que o habitual. Tomado por imensa alegria, Shozan releu a carta muitas vezes.
Desculpando-se pelo incômodo que causara ao homem, o monge logo se pôs a cozinhar o arroz.
— É uma refeição modesta, mas, por favor, sirva-se — ofereceu.
Porém, o homem nada fazia senão chorar.
— O que foi? — perguntou um confuso Shozan.
— Sua mãe estava preocupada com o senhor. Ela queria lhe enviar arroz, mas não havia recursos, pois leva uma vida difícil. Ela tentou pedir dinheiro emprestado, em vão. Foi quando decidiu vender um móvel da casa. Assim, comprou o arroz. Cada grão está imerso no seu amor pelo senhor. Sinto-me indigno de comê-lo.
Na carta, ela poupara-lhe dos detalhes.
— Buda diz que a dívida de gratidão aos pais é infinita como o céu. E eu, tolo, não tentei conhecer nem a milésima parte dessa dívida — disse Shozan, entre lágrimas.
Todos os dias, passou a cozinhar do próprio arroz e a acrescentar um grão daquele enviado pela mãe. Assim, não esquecia a gratidão que lhe era devida.
(Texto do livro “De mãos dadas no caminho – Os laços entre pais e filhos”, de Koichi Kimura)
Feliz é a pessoa que sabe e conhece a gratidão.
Muito mais feliz é quem sente gratidão.
Mas a pessoa mais feliz de todas é aquela que retribui a gratidão.
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