Este mundo é cheio de desigualdade, desde quando nascemos. Alguns nascem numa família rica; outros, numa casa pobre; alguns têm talento, outros não; alguns ocupam uma posição de destaque e predominam, outros se esforçam a vida inteira para galgar os degraus do sucesso; há aqueles que são escravos do dinheiro, mas têm uma vida boa e confortável; há pessoas que vivem num verdadeiro conto de fadas, mas também existem outras que choram por um casamento fracassado ou que ainda não conseguiram encontrar a pessoa amada, e assim por diante. Tudo é muito variado.
A vida segue muitos caminhos. Somos todos atores, desempenhando nosso papel no palco da vida. Apenas isso. Pois quando a peça termina, voltamos a ser novamente pessoas comuns, seres humanos. Então, somos todos iguais, ninguém é superior nem inferior a ninguém.
Mas o que faz com que os seres humanos sejam iguais, mesmo diante de tanta diversidade e desigualdade?
Uma história infantil italiana ilustra de maneira divertida, mas profunda, a resposta desta questão. No escuro da noite, uma vela queimava numa cabana que ficava no alto de uma montanha, convencida de que era a coisa mais brilhante que podia existir. Depois, veio um lampião a óleo, com semelhante ilusão de grandeza.
Em seguida, apareceu a luz elétrica, arrogante e cheia de presunção. Como era muito mais reluzente, fez com que a vela e o lampião ficassem sem destaque e cabisbaixos. Então, chegou a manhã: o sol nasceu. Completamente eclipsados, a vela, o lampião e a lâmpada elétrica escureceram. Foi o fim de toda a vanglória.
Quando se faz uma radiografia, todas as pessoas, quer sejam altas ou baixas, bonitas ou feias, ricas ou pobres, homens ou mulheres, heterossexuais, homossexuais ou transsexuais, idosas ou jovens, todo e qualquer ser humano é igualmente reduzido a nada mais que uma estrutura de ossos.
Shinran (1173-1263), grande mestre budista do Japão, descreveu o ser humano da seguinte maneira: “Todos nós, seres humanos, ‘transbordamos’ de paixões mundanas. Somos cheios de desejo, nossas mentes são caldeirões de raiva e inveja e, até o último instante da vida, essa condição não cessa, não desaparece, não chega ao fim, nem por um momento.”
A filosofia budista explica que ser humano é um aglomerado de 108 paixões mundanas, que são sentimentos inerentes em qualquer pessoa, como desejo, raiva, inveja e ciúme. Nós, humanos, somos feitos dessas paixões cegas.
Quando os nossos desejos são contrariados, ficamos zangados. Principalmente, por exemplo, quando somos criticados na presença de outras pessoas, sentimos uma humilhação da qual podemos até não conseguir nos livrar pelo resto da vida.
Dirigida a um oponente mais fraco, a raiva assume a forma de um ataque desenfreado; contudo, quando o outro é mais forte, ela se transforma em profunda ira. Quando este rancor não pode ser expresso diretamente e externalizado, muitas vezes assume a forma de inveja e ódio.
Quem consegue ser feliz desta maneira? Mas, por outro lado, quem está livre de viver dias assim?
Por isso, o grande desafio da vida é obter uma felicidade que não seja destruída mesmo diante da manifestação de qualquer tipo de paixões mundanas como desejo, ira, inveja ou ciúme.
O budismo ensina que existe uma felicidade possível nesta vida, mesmo com todos os nossos sentimentos de desejo, raiva e inveja, pois a questão da felicidade humana não está ligada ao combate e eliminação das paixões mundanas, pois elas sempre existirão até a nossa morte.
Para ser verdadeiramente feliz nesta vida é necessário saber corretamente da causa do sofrimento humano, para então caminhar em direção à felicidade plena, assim como é preciso, antes de tudo, saber da verdadeira causa da doença para fazer o tratamento e chegar à cura completa.
Tudo isso está explicado no livro “Porque vivemos” e apresentado em vários artigos e textos do site da ITIMAN.
Para quem ainda não conhece a edição portuguesa (compacta) do best-seller japonês “Porque vivemos”, vale a pena ler. Aos que já leram e desejam estudar e aprender com maior profundidade a filosofia budista, sugerimos a leitura da edição brasileira (completa) do livro.
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