Ninguém precisa ser perito na Teoria da Evolução de Charles Darwin para saber que a lei da selva é uma severa realidade. O senso comum diz que se trata de um estado natural das coisas. A maioria das pessoas acha que é natural comer carne, mas os animais não veem sua existência em função dos seres humanos, nem consideram seu sacrifício um fim natural e inevitável.
A morte significa sofrimento tanto para nós, como para os animais. Por que um peixe se retorce no convés do barco de pesca? Por que a galinha bate as asas quando seu pescoço é destroncado? Porque estão sofrendo, com certeza. Descartar esses sofrimentos com base na afirmação de que são necessários para o ser humano viver, como se apenas a vida humana fosse preciosa, é certamente o máximo da arrogância.
Os animais que matamos vão para a morte amaldiçoando nossa crueldade. Eles devem sentir a mesma amargura de um ser humano condenado à morte por uma acusação falsa.
A intenção aqui, não é fazer apologia ao vegetarianismo ou veganismo, que são opções de estilo de alimentação estritamente pessoais, que não são objetos de discussão deste artigo, mas apresentar um exemplo de um dos pontos cegos sobre o nosso próprio eu.
“O fio da aranha”, um conto clássico do escritor japonês Ryunosuke Akutagawa (1892-1927), capta brilhantemente a natureza egoísta da humanidade. Nele, Buda sente pena de Kandata, um ladrão que sofria nas profundezas do inferno, as consequências dos seus maus atos praticados. Ao lembrar que Kandata havia um dia poupado a vida de uma aranha, Buda baixou um fio de teia até o inferno para que ele pudesse escapar.
De início, o plano funcionou perfeitamente. Kandata agarrou a teia e começou a subir. Quando se cansou, parou, olhou para baixo e fez uma descoberta chocante: suspensa abaixo dele estava uma multidão, todos pendurados no mesmo fio de teia de aranha, querendo também escapar do inferno. Temendo que o fio se quebrasse, Kandata gritou para eles descerem. Nesse instante o fio se partiu e todos mergulharam juntos de volta ao inferno.
“A crueldade de Kandata, que não se importava com os outros, contanto que ele se salvasse, o atirou de volta ao inferno. Ah… com essas atitudes cruéis, ele não tem nenhuma chance de sair desse sofrimento …” Mesmo sendo uma narrativa fictícia, este profundo suspiro de Buda parece penetrar com profundidade em nossos corações.
Mas será Kandata o único que possui este tipo de sentimento egocêntrico? A filosofia budista explica que existe um Kandata vivendo dentro da mente e do coração de cada um de nós.
Saber e ter consciência desta nossa realidade não é, de maneira alguma, ser pessimista ou algo mau. Muito pelo contrário, pois somente quem é capaz de reconhecer as próprias limitações humanas como o egoísmo, que está no nosso íntimo, poderá, também, se dedicar de corpo e alma na prática das boas ações pelo bem de si próprio, das pessoas, da sua comunidade e da sociedade em geral.
Este é um dos assuntos discutidos e explicados no livro “Porque vivemos”, pelo professor Kentetsu Takamori. Para quem ainda não conhece a edição portuguesa (compacta) do best-seller japonês “Porque vivemos”, vale a pena ler. Aos que já leram a versão portuguesa, sugerimos, também, a leitura da edição brasileira (completa) do livro.
PORQUE VIVEMOS – EDIÇÃO PORTUGUESA
PORQUE VIVEMOS – EDIÇÃO BRASILEIRA
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Pansy Stramel
Achei muito de mais este seu artigo. Parabéns pela idéia!