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3- Viver cada dia

O ideograma japonês para a palavra «comer» (食) é composto por dois caracteres: «pessoa» (人) e «aperfeiçoar» (良). Isto significa que não faz sentido comer, se, enquanto vivermos, não nos aperfeiçoarmos, mesmo que seja apenas um pouco.

O professor Kentetsu Takamori, autor do livro “Porque Vivemos”, ensina que «Sem progredir e avançar um passo – meio passo que seja – de ontem para hoje, não é possível dizer-se que se viveu o dia».

Viver cada dia, sempre se esforçando para fazer o bem e ser uma pessoa melhor é, com certeza, algo bom e que todos nós precisamos fazer. Mas ainda assim, resta dentro de nós uma pergunta: “para que direção estou a avançar?” ou “por que, fazendo tudo o que faço, todos os dias, estou a viver?”.

“É ótimo estar vivo!”. Quantas pessoas vivem assim, a transbordar de bom humor e otimismo? O século XX, no qual a tecnologia avançou rapidamente mas a verdadeira abundância estagnou, caraterizou-se como uma era de ansiedade. Muitas pessoas possuem bens materiais; nada lhes falta, porém, no fundo, estão descontentes, dominadas por uma vaga e permanente sensação de inquietação e vazio. “A vida é uma cha- tice”. Quem nunca disse isto?

Viktor Frankl (1905–1997), grande neurologista, psiquiatra e filósofo austríaco, observa que o homem moderno, no momento em que se reforma e pode, finalmente, fazer o que quiser, muitas vezes sente que a sua vida é sem sentido e vazia.

Para Frankl, muitas pessoas veem-se dominadas pela sensação de vazio porque não sabem a razão de estar vivas. Chama a esse estado “vazio existencial”. Não raras vezes, esse vazio leva ao suicídio, à depressão, às drogas. Outros males comuns, tais como a agressão e o desejo compulsivo, só podem ser entendidos quando admitimos o vazio existencial por detrás deles. O mesmo pode ser dito a respeito das crises de refor- mados e idosos.

A sociedade é um coro de vozes que nos estimula a viver e perseverar. No entanto, ninguém se detém para pensar ou para perguntar por que razão, sendo a vida dolorosa, devemos continuar a vivê-la. Pode haver algo mais misterioso?

O livro “Porque vivemos” (Nascente / Farol, 2020 Editora), de Kentestu Takamori explica exatamente esta resposta à questão fulcral da vida, segundo a filosofia budista.

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Professor de filosofia budista, cultura japonesa e pensamento nipónico, autor, diretor de conteúdo e presidente da ITIMAN. Diretor internacional da Ichimannendo Publishing Co. Ltd. - Tóquio, Japão.

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